Nunca fui chegado às ciências
humanas, mas considero que muitas coisas delas são facilmente explicadas pelas
ciências desumanas (ou exatas). A lei da “ação e reação” por exemplo, se
encaixa perfeitamente em muitas situações do cotidiano, mas uma lei que estou
passando a odiar é a tal da inércia.
O relacionamento começa como
manda o figurino, com os dois se conhecendo e se encantando com o universo um
do outro. As diferenças são uma descoberta, um desafio que vale a pena ser
encarado. Chega a ser gostoso, muitas vezes. Certos incômodos como o jeito de
falar alto ou de lidar com certas situações são facilmente tolerados. Um
aprendizado constante e quando se percebe já passaram um bocado de tempo
juntos, inclusive conhecendo os problemas da pessoa. Se nada acontece de
diferente na sua vida ou ninguém diferente aparece pra te trazer um novo
encanto, aquele sentimento e a vontade de querer bem aquela pessoa vai
permanecer e ainda crescer. Eis a ação
da inércia. Você agora só quer ajudá-la a sair de seu mundinho de mesmice e
cobrança da sogra, até que na loja de departamentos você passa direto pela
prateleira de chocolates e vai em direção à que tem um utensílios de cozinha.
Aí é que a coisa começa a ficar mais séria e concreta. Começando pelo estômago,
é lógico. Depois de mais de uma década você já nem vai mais recordar se as
alianças vieram antes ou depois disso. Tanto faz.
Daí ao casamento, alegrias,
primeiras dificuldades, emprego novo, cidade nova, experiências, retorno. Tempo
que passa, família, novo lar e por aí vai. A entrega da mulher à essa nova vida
é enorme e impressionante. Muitos homens não conseguem lidar. Eu achei que eu
conseguiria. Extremamente complicado quando a aventura dá lugar à
responsabilidade, e é compreensível, mas o que não é compreensível é a chatice
de se perder o encanto ou deixar de se arrepiar com a surpresa de um carinho
nos locais específicos do corpo, por exemplo. A delícia de estar um dia
sozinhos em casa e fazer sexo na cozinha, em cima da pia, no sofá da sala ou no
banho juntos de porta aberta, se atracando dali até a cama e lá desfalecerem de
gozar.
Mais do que nunca isso agora é
permitido! É necessário!
A inércia da vida e do cotidiano pode
fazer tudo isso se perder. O companheirismo vai substituir a surpresa, a tara
de se jogar em cima do outro, ou se deixar despir violentamente em plena luz do
dia e deixar o prazer acontecer. A calcinha de ladinho na transa dentro do
carro dará lugar ao sexo poucas vezes na semana, com o requisito da combinação perfeita
entre filme, comida japonesa, sono das crianças e ausência de menstruação. Com
isso a ausência de problemas domésticos. As cobranças passam a ser mais
constantes, e a maneira de se reagir aos problemas ou o tom de voz passam a ser
insuportáveis.
Sir. Isaac Newton que me desculpe, mas a
porra da inércia é que fode com tudo. Porque ninguém chega pra você na hora de
uma escolha dessas e diz que você vai crescer, amadurecer, poderá conhecer (ou
viver) outros relacionamentos diferentes, outras realidades e quem sabe, cruzar
com alguém que tenha mais semelhanças contigo do que a pessoa que você está
escolhendo pra ficar junto na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. A
coisa vai toda no automático. Não quero dizer que isso é uma regra e que todos
que casam cedo estão fadados a serem infelizes. Quero apenas enfatizar que
chega uma hora que a pessoa cansa de ceder para a outra. Vai chegar o final de
semana em que você vai querer fazer tudo diferente, ou não fazer nada, e isso
vai causar uma estranheza tremenda. Vai chegar uma hora em que aquela
respostinha malcriada que era considerada engraçada pra evitar briga, ou até se
levava na sacanagem, passa a ser insuportável. O comodismo, o mau humor, a
falta de privacidade, intimidade e cada coisa pequena, cada cicatriz de birras
e brigas entre vocês, cada sonho adiado... tudo isso vai contar e vai engordar a
lista dos motivos pra cair fora.
Então, puta que pariu! Só o que
eu digo pra quem vier a ler isso é que avalie bem antes de juntar os trapinhos
com alguém que tem uma quantidade razoável de diferenças em relação a você, e
pense se há necessidade de arriscar mesmo ou se vale a pena esperar um pouco
mais até conseguir alguém que seja tão louco ou tão certinho quanto você é. Ou
não conseguir ninguém, mas que se foda! O mais importante é estar feliz. Viver
momentos felizes nem que seja sozinho. Porque depois que você estiver com a
vida estruturada, não vai querer deixar o lar que conquistou (aram) e além
disso, amará perdidamente as crias que houverem (se houverem), de modo a não
querer que elas sofram com a separação. Você também não vai querer se afastar do
carinho deles.
Aí meus caros, será necessária uma
grande decisão, onde agirá a primeira lei que citei: “ação
e reação”.
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