sexta-feira, 28 de abril de 2017

Daqui de cima...

Ainda estranho um pouco a forma diferente de enxergar tudo, agora
Ver as coisas por cima.
Aqui agora neste voo, os tímpanos já não me doem mais.
A pressão não faz mais diferença
Subida... Descida...
Entro e saio. Sinto os pensamentos.
Uns aliviados pelo retorno ao trabalho, outros preocupados porque deixaram o amor doente.
Outros ainda com a mente no ônibus a tomar, ou no caminho a seguir retornando para o lar.
Tamanha a ansiedade que mal prestaram atenção nas instruções de segurança.
Posição da cabeça, mãos, postura... mas pra quê aquilo tudo?
Sei que pode funcionar, e é a única coisa a se fazer numa hora dessas, mas àquela altitude não adiantou muito.
Vendo o mar logo ali abaixo se imagina que será um mergulho suave, um pouso tranquilo, flutuadores atuando... Ilusão, porque as ilhas de aço crescem rápido demais.
A porrada chega tão forte e dura que você pouco vê, e quando se dá conta, seu ente cujo corpo você sepultou a pouco vem te receber com um sorriso.

Foi difícil aceitar.
Longa caminhada e luta, pra hoje eu conseguir vir aqui e dizer isso, mas acontece que a gente nunca tá preparado.
A gente chega aqui pensando na família que ficou, se a dívida da casa foi paga, se eles ficaram bem, se estão seguros...
Você pensa no rápido apertar de mão e do abraço que não deu no colega que te passou o colete. No tapa nas costas que nunca se sabe se será o último.
Aqui ainda sinto o carinho e às vezes o lamento de quem lá ficou, e agora só peço que fiquem com o primeiro.
O segundo me faz mal.
Quero que lembrem de mim com carinho.
Das brincadeiras e dos nossos momentos alegres, pois daqui de onde estou esse carinho volta multiplicado em forma de luz e tranquilidade.

Só vos digo que valorizem cada momento na sua ilha de aço
Cada contato feito
Cada sorriso de "bom dia!"
Cada momento que poderá nunca mais se repetir

Aproveitem cada jornada, fazendo vosso melhor e amando a família universal, 
que o Pai maior os enxerga o tempo todo.


Fiquem na paz!



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